Ortodoxia 2000

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Os Sacramentos na Ortodoxia.

[Por José Lauro Strapasson]
Fonte: The Orthodox Church, Timothy Ware, (Bishop Kallistos of Diokleia).

Na Ortodoxia o número 7 e a atual lista para os sacramentos apareceu muito tarde, lá pelo século XVII, basicamente por influência latina. O número 7 em si não tem nenhuma importância doutrinária e ainda se entende que há muitas praticas na Igreja que possuem o caráter sacramental e são chamados de sacramentais como por exemplo a profissão monástica, o serviço para o enterro de um falecido, etc. Tanto os sacramentos como os sacramentais se caracterizam tanto pela graça invisível como pelos sinais visíveis. No que diz respeito aos 7 sacramentos os quatro primeiros são obrigatórios e os três últimos são opcionais. A confissão e a eucaristia evidentemente não são recebidos uma única vez mas devem ser recebidos inúmeras vezes durante a vida. Os sacramentos não são igualmente importantes uma vez que o Batismo e a Eucaristia predominam como o centro da vida cristã.

Batismo.

Na Ortodoxia não só se batizam crianças como também logo em seguida elas recebem o crisma e a eucaristia pois em momento algum a Igreja se acha no direito de privar alguém desses sacramentos. Duas características importantes do batismo na Ortodoxia é que é normalmente feito por imersão em água e SEMPRE se batiza em nome das três pessoas da Trindade. Para a Ortodoxia o batismo por simples aspersão deveria ser usado somente em caso de emergência e nunca como regra. O batismo é o sacramento de iniciação cristã que nos perdoa todos os pecados e nos faz membros da Igreja que é o corpo de Cristo. Na Ortodoxia o batismo é ministrado normalmente pelo Bispo ou pelo Padre mas, em caso de emergência, o batismo pode ser ministrado pelo diácono ou por qualquer pessoa desde que seja cristã. Atualmente a Ortodoxia reconhece para os casos de conversão o batismo tanto da Igreja de Roma como de todas as Igrejas protestantes (somente aquelas que batizam em nome da Santíssima Trindade: "Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo").

Crisma.

A crisma (ou confirmação) é uma extensão do Pentecostes onde a pessoa crismada (em geral a criança recém batizada) recebe o Espírito Santo. A crisma na Ortodoxia é normalmente ministrada pelo padre (e não pelo bispo) mas o óleo usado que é chamado de Crisma (ou Myron) é benzido pelo bispo (modernamente somente o bispo que é primaz de uma Igreja Autocéfala pode fazer isso). O sinal da cruz com o óleo é feito em várias partes do corpo do crismando e não só na fronte. A crisma esta relacionada com a fé da pessoa e por isso quando um católico romano é recebido na Ortodoxia através de uma Igreja de tradição grega o mesmo é recebido através do sacramento da crisma (na Igreja de tradição russa somente uma simples profissão de fé é necessária). Já todos os cristãos protestantes incluindo anglicanos são recebidos sempre pela crisma.

Eucaristia.

Na Ortodoxia as pessoas recebem sempre a eucaristia nas duas espécies, ou seja, sempre o corpo e o sangue de Cristo. Acredita-se plenamente na presença real de Cristo na eucaristia e o pão se torna realmente (e não simbolicamente) o corpo de Cristo e o vinho realmente o sangue de Cristo embora a palavra latina "transubstanciação" seja em geral evitada uma vez que a ortodoxia não fica fazendo especulações e se limita a crer no mistério. Uma diferença que existe entre a Igreja Romana e a Ortodoxia é que para a Igreja Romana a consagração ocorre no momento da recitação das palavras da Instituição, ou seja, "Isto é meu corpo...", "Isto é meu sangue...", já para a Ortodoxia a consagração não ocorre num momento definido mas só é tida por completa após a Epiclesis, ou seja, a invocação para que o Santo Espírito desça sobre os santos dons e que na liturgia bizantina é posterior a recitação das palavras da Instituição 1. Outra diferença é que se usa pão fermentado para a eucaristia. A eucaristia é entendida como um sacrifício, não um outro sacrifício, mas o próprio sacrifício de Cristo na Cruz. Assim sendo, dado a imensa importância da Eucaristia, se faz um intenso jejum e não se pode comer ou beber nada pela manhã antes de receber a Eucaristia. Após a Eucaristia as pessoas também recebem um pão bento chamado Antidoron que é em geral do mesmo pedaço de pão que foi usado para a eucaristia mas que não é consagrado. Todos os presentes, ortodoxos ou não, são convidados para receber o Antidoron.

1-Felizmente na liturgia latina atual a Epiclesis é anterior ao recitativo das palavras da Instituição de modo que mesmo com a diferença doutrinária nenhuma confissão pode acusar a outra de adorar a matéria.

Confissão.

É o Sacramento pela qual as pessoas dizem seus pecados ao padre e recebem a absolvição de pecados cometidos após o batismo. Na Ortodoxia não há confessionários podendo a confissão ser feita em qualquer lugar conveniente da Igreja, em geral imediatamente na frente do iconostasio, e tanto o padre como o penitente ficam ambos em pé ou as vezes ambos sentados e não um ajoelhado e outro sentado como ocorre normalmente na Igreja romana.

Ordem.

Há três Ordens maiores, diácono, padre e bispo, e duas Ordens menores, leitor e subdiácono. Na Ortodoxia um homem casado pode ser tanto diácono como padre porém deve se casar antes mesmo de ficar diácono. O diaconato é algo permanente e não um mero estágio para se chegar ao sacerdócio e assim há muitos diáconos que não tem interesse em ficar padre. Um diácono é necessário para a plena celebração da missa. Uma vez recebida uma Ordem maior não se permite mais casamento, assim um padre ou diácono casado que fica viúvo não pode mais se casar. O clero ortodoxo se divide em dois tipos. O clero "branco" que são os casados e o clero "preto" que são os monges. Em principio um homem solteiro antes de receber o diaconato deveria antes fazer os votos monásticos (mesmo que não vá viver em mosteiro) porém isso nem sempre acontece e assim existem diáconos e padres "celibatários" que são solteiros, não podem se casar por já serem ordenados e não são monges mas nada impede que se tornem monges depois bem como um padre viúvo também pode ficar monge. Isso é importante pois os bispos somente são escolhidos dentre o clero monástico. É evidente que assim sendo a Igreja Ortodoxa tende a ter muitos padres para poucos diáconos e bispos. Poucos bispos pois nem todos os padres são ou querem ser monges e poucos diáconos pois uma vez sendo diácono não há nenhum motivo razoável para não querer ser padre. Uma possível solução para a falta de diáconos seria a restauração das diaconisas. Diferente do ocorreu no ocidente onde as diaconisas parecem ter sido apenas leigas (ou se quer dizer que tenha sido apenas isso) no oriente as mulheres diaconisas realmente recebiam a primeira ordem maior exatamente da mesma maneira que os homens. A Igreja Ortodoxa nunca aboliu a ordenação de diaconisas porém lá pelo século sexto ou sétimo isso caiu em profundo desuso e sumiu completamente lá pelo século nono porém há muitos cristãos ortodoxos que querem a volta das diaconisas. Já no que diz respeito a Segunda Ordem maior a situação é bem diferente. Nunca houve mulheres padres e na Igreja Ortodoxa muito provavelmente nunca haverá. Na Ortodoxia as ordenações ocorrem sempre dentro da liturgia e nunca se ordena mais do que uma pessoa por vez. A ordenação ou sagração de um bispo requer a presença de três (ou no mínimo dois) bispos. Ainda sobre os bispos ortodoxos é muito importante lembrar que eles tem a Sucessão Apostólica ininterrupta, possuem a plenitude do sacerdócio e dos sacramentos e são todos iguais entre si, sendo que Metropolitas, Arcebispos, Patriarcas, etc, se distinguem apenas pela hierarquia e pela honra mas são igualmente sucessores dos Apóstolos e nenhum é melhor ou mais apostólico que outro.

"...5 Assim também Cristo não arrogou a si mesmo a glória de se tornar sumo sacerdote; recebeu-a daquele que lhe disse: Tu és meu filho, eu hoje te gerei, 6 de conformidade com esta outra declaração: Tu és sacerdote para a eternidade à maneira de Melquisedec (Hebreus 5, 5-6) ".

Bíblia Sagrada - TEB-Tradução Ecumênica da Bíblia - Editora Loyola.

Matrimônio.

É o sacramento pelo qual Deus abençoa um casal para que cumpra a vontade de Deus da continuação da espécie humana. Na Ortodoxia em hipótese alguma a pratica sexual é permitida fora ou antes do casamento não importando se as pessoas pretendem se casar uma vez que não se deve antecipar o sacramento. Não se permite também o casamento homossexual. A Igreja Ortodoxa permite o divórcio uma vez que Cristo ao falar da indissolubilidade do casamento abriu uma exceção Mt 19,9 e assim a Igreja com sua autoridade dada por Cristo abriu outras. Porém o casamento é entendido para ser perpétuo e o divorcio é visto como uma tragédia. Caso o divórcio tenha sido assegurado pela Igreja se permite novos casamentos porém de uma forma penitencial. Se permite até três casamentos mas um quarto é completamente proibido. Uma das partes mais bonitas do casamento ortodoxo (bizantino) é a coroação e a bebida do vinho que recorda as bodas de Caná.

"...9 Eu vo-lo digo: Se alguém repudia sua mulher - exceto em caso de união ilegal - e casa com outra é adúlterio". (Mateus 19,9) ".

Bíblia Sagrada - TEB-Tradução Ecumênica da Bíblia - Editora Loyola.

Óleo Santo.

Para a origem desse sacramento veja Tiago 5,14s. Esse sacramento tem por objetivo o bem tanto da alma como do corpo. Esse sacramento serve no caso de uma pessoa doente tanto para restabelecer a saúde (se for a vontade de Deus) como eventualmente para preparar para morte. No entanto o óleo santo na Ortodoxia nunca foi entendido como "Extrema Unção" e nem mesmo deveria ser chamado de "Unção dos Enfermos" uma vez que pode ser administrada a pessoas perfeitamente saudáveis e de fato é em muitas paróquias na quarta feira a noite e na quinta feira de manhã na semana santa.  

"...14 Algum de vós está doente? Mande chamar os anciãos da Igreja e que estes orem, depois de tê-lo ungido com óleo em nome do Senhor. (Tiago 5,14) ".

Bíblia Sagrada - TEB-Tradução Ecumênica da Bíblia - Editora Loyola.


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| Página atualizada em 16 de fevereiro de 2006 |